domingo, 2 de dezembro de 2012

A Vaga Acidental

Flashback julho de 2007: 16 anos, último ano de colégio militar, férias, piscina, sol, mar e... mega ansiedade pelo lançamento de Harry Potter and the Deathly Hallows, último da série. Lembro que eu tava numa cidadezinha no litoral do Pará quase chorando sangue porque não tinha ninguém em casa pra receber o livro que eu tinha encomendado na pré-venda. Apelei pra ler traduções informais na internet numa lan house perto do hotel. Felizmente o livro chegou um dia após eu ter retornado pra Manaus. No dia seguinte, obviamente, já estava lido. E ali começou a sensação de ser um pseudo-órfão dessa mulher que nem sabe que eu existo. Mas hoje, pouco mais de cinco anos depois, essa sensação foi meio que sanada, embora de uma forma filha-da-putamente radical.

Traduzido no Brasil como Morte Súbita, The Casual Vacancy é o primeiro livro da J. K. Rowling depois da heptologia Harry Potter e também o primeiro livro da autora direcionado ao público adulto. A história se passa em Pagford, uma cidadezinha fictícia no sudoeste da Inglaterra, onde Barry Fairbrother, membro do conselho que governa a cidade, de repente morre devido a um aneurisma e gera imensas expectativas acerca de quem preencherá sua vaga acidental (ba dunts!). A corrida política parece polarizar, assim, seus candidatos em dois grupos: os que são a favor de manter a área chamada de Fields (onde moram muitos pensionistas e pessoas de baixa renda) sob a gerência de Pagford e os que querem "purificar" a cidade de todos aqueles pobres bêbados e drogados (hum... super imparcial essa minha análise. Mas sou eu quem mando nessa porra! LOL). Além dessas visões políticas, no entanto, as persongagens são ainda obrigadas a enfrentar questões de cunho moral, familiar e social que formam a base do romance.

Um dos aspectos que mais me chamaram atenção no livro foram os temas extremamente atuais dos quais ele trata. Pra isso, a JK faz referências diretas que impossibilitam qualquer distanciamento entre o que nos é mostrado na narrativa e o mundo em que de fato vivemos: desde o papel importantíssimo que a informática tem hoje (entre outras, inúmeras referências ao Facebook) até citações diretas de músicas pop, sendo a mais importante delas, curiosamente, Umbrella da Rihanna - que bizarramente tem muito a ver com a história. Além desses indicadores do século XXI, o narrador onisciente nos faz o imenso e desconcertante favor de nos contar tudo que se passa na cabeça das personagens. Não no estilo fluxo de consciência, mas de forma tão direta e com um olhar tão clínico que a gente não pode deixar de sentir alguma empatia mesmo pelos mais vis... e olha que o que não falta nesse livro é gente vil. Merece destaque aqui, nesse sentido, a vasta gama de personagens que se inscrevem na narrativa. Desde bebês negligenciados e adolescentes suicidas até donas de casas com tesão (foda-se 50 Shades of Grey!) e obesos sedentos de poder. BTW, vocês não têm ideia do choque que foi pro meu eu de 9 anos - que secretamente torcia pra uma nesga de magia na história - ler uma descrição dos diferentes tipos de pornografia a que uma das personagens tem acesso.

Tratando da evolução da narrativa em si, por outro lado, já não posso dizer que fiquei tão chocado quanto esperava. Em se tratando de um romance mega hypado que gira em torno de eleições, achei que veria mais trapaças, jogos políticos, possivelmente assassinatos ou coisas do tipo. Mas isso passa longe do foco do romance. Estamos aqui falando de 500 páginas, então realmente achei que faltou um semiclímax lá pelo meio. E mesmo o andar da carruagem durante todo o romance parecia indicar um final chocante como resultado da corrida dos candidatos pela vaga no governo. Não se deixem enganar. O final é chocante, sim, mas por motivos muito diferentes. Coisas extraordinárias acontecem, mas em sua maioria na forma de uma revolução moral e pessoal em cada personagem, sem grandes embates e choques espetaculares entre as personagens em sequências de muita ação.

Se bem que o objetivo da obra, da forma em que eu interpretei obviamente, nem sequer chega perto de ser impressionar com cenas vistosas. O que mais me marcou como fio condutor do romance é o fato de vivermos bem hoje, numa sociedade modernizada, como as fachadas da boa moral e dos costumes, mas, no fundo, nossas paredes não abrigam muito mais coisas que a nossa hipocrisia, nossas ambições egoístas e nossa pré-disposição pra virar as costas a problemas que não nos dizem respeito diretamente. Viver acaba sendo buscar o conforto próprio e ver méritos próprios onde não existem e tirar vantagem nas menores das coisas quando nos comparamos com nossos vizinhos. O que nos resta, no fim, é sermos comovidos pela tragédia dos outros pra que nós mesmos nos reajustemos. Nesse mundo de aparências, assim, infelizmente pagam primeiro os que mais necessitam de ajuda. Só pra nós depois nos sentirmos melhores e agradecermos pelo que temos. Enfim, JK, saiba logo que já deixou mais uma casual vacancy neste leitor que tanto te admira.
"You must accept the reality of other people. You think that reality is up for negotiation, that we think it's whatever you say it is. You must accept that we are as real as you are; you must accept that you are not God."

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Sertanejo MADE IN USA

Em setembro mais uma fall season começou e nossas queridas séries voltaram com episódios novos. Já tô com saudades por antecipação de Dexter, que já tá se encaminhando pra um final promissor nessa penúltima temporada; a trama de The Walking Dead evoluiu muito com a introdução de temas políticos e minhas sitcoms favoritas, 2 Broke Girls e New Girl, continuam hilárias. Infelizmente minha empolgação com Revenge miou drasticamente, então tive que abandonar os evil looks e as armações da Emily Thorne. Um beijo, Emily VanCamp! Mesmo assim, num dos posts da série no Facebook, vi uma propaganda de uma outra série que ia estrear também na ABC. Já vi todos os episódios até agora e já tô viciando.

Pra mim Nashville é um drama musical humorado. Mas atenção, gleeks: a palavra "musical" está aqui escrita no sentido de que sua protagonista realmente é cantora e canta suas músicas em situações reais, não como extravasamento de suas emoções adolescentes no meio do refeitório da escola. Em todo caso, a série gira em torno da Rayna Jaymes (interpretada pela Connie Britton, atriz premiada e linda), uma cantora country famosa cuja carreira tá se estagnando. Forçada a se reinventar, Rayna se recusa a ceder às pressões do showbiz e se vender tal qual a nova sensação sexy do country: Juliette Barnes (Hayden Panettiere mais gata que nunca). A sacada da série é justamente essa: navegar entre a vida pessoal e profissional das personagens oferecendo ao espectador um vislumbre dos bastidores gananciosos do mercado musical.

Cada episódio tem umas duas ou três músicas interpretadas também por outras personagens que não as protagonistas. Entre composições originais e covers, a série busca, pelo menos a meu ver, resgatar algumas raízes da country music ao mesmo tempo que mostra tendências mais recentes do gênero. Mas quanto a isso não posso falar muito porque o mais próximo que eu já cheguei de ouvir música country foi com Kings of Leon, ou seja... Anyways, além da música, as tramas periféricas envolvem obviamente relacionamentos amorosos, drogas e até política.


Nashville já tá até indicada a alguns prêmios e foi bastante elogiada pelos críticos principalmente pela atuação da Connie e pelo roteiro bem escrito. Devo concordar que a Connie tá excepcional no papel, mas isso eu já previa. Desde Friday Night Lights que eu sou fã dela. Concordo igualmente com os elogios ao roteiro. Os produtores exploram os conflitos das personagens de forma mais ampla. A antagonista não se esgota no simples papel de representar a artista vendida; a protagonista também não é só princípios; os jogos políticos tem implicações por vezes mais familiares que propriamente políticas. Enfim, é uma série muito bem pensada, obviamente com uma trilha sonora ótima e composta de personagens densas que ainda têm muito a mostrar depois desses meros sete primeiros episódios. Assim, o ambiente e o sotaque sulistas, o country e o guilty pleasure de ver os bastidores das vidas das celebridades oferecem um entretenimento que não vemos todo dia na tv.
"My momma was one of your biggest fans. She said she'd listen to you while I was still in her belly."
 

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Aprendendo a Participar

Meses depois... agora que a empolgation do intercâmbio tá se esvaindo e eu já tou mais acostumado com a cidade, a empolgation de voltar a escrever voltou. E este comeback post tem o objetivo de falar de uma obra cujo livro descobri e li há alguns meses. Sempre gosto de lembrar do que me levou a ler, ver ou ouvir alguma coisa, mas já não consigo recordar qual foi o gatilho dessa vez. Acho que foi no MTV Movie Awards, ou no VMA, ou no EMA, alguma dessas premiações aí, que eu vi a Emma Watson promovendo um filme dela que tava pra estrear. Semanas depois devo ter me lembrado disso e fui atrás do livro que deu origem ao filme. 

The Perks of Being a Wallflower (traduzido oficialmente como As Vantagens de Ser Invisível) é um romance epistolar (composto de cartas) de 1999 escrito por Stephen Chbosky que rapidamente ganhou popularidade entre os teens americanos. A obra trata do primeiro ano de high school  de Charlie (no filme interpretado pelo Logan Lerman, o Percy Jackson) na primeira metade dos anos 90. Charlie, sendo um wallflower, é um adolescente mais espectador que ator tentando superar traumas da infância e achar seu espaço no competitivo ambiente escolar. As coisas começam a melhorar, no entanto, quando conhece Patrick (Ezra Miller) e Sam (Emma Watson), ambos do último ano e dispostos a mostrar um novo mundo ao protagonista. O mais interessante dessa versão cinematográfica é que foi o próprio autor do romance que adaptou o roteiro e dirigiu o filme, ou seja, logo de cara já não podemos dizer que o longa metragem não é fiel à obra original. Mas muito além de um roteiro adaptado, o filme conta com diversos outros aspectos positivos.

Destaco logo a qualidade da atuação. Eu nunca tinha ido muito com a cara do Logan Lerman pelo simples fato de ele nunca ter feito um filme de que eu realmente gostasse, mas em Perks posso dizer que ele interpreta o protagonista com muita competência e encarna bem a timidez, a sensibilidade e a instabilidade do Charlie do livro, nada a ver com o chatinho do Percy Jackson. Agora a Emma Watson foi pra mim a maior surpresa. Eu já tinha lido umas críticas que a elogiavam muito, mas eu tinha que ver pra crer. A Sam é tão diferente da Hermione e a Emma interpreta tão bem que não tem nem como comparar. O sotaque, o desprendimento, as cenas mais sensuais. Muito orgulho da Emma, acho que ela vai ser a única do trio a se livrar de Harry Potter. Mas ainda temos o Ezra Miller, maior fonte de risos do filme. Conversando com uma amiga, ela me disse que todos saíram da sessão em que ela foi querendo ter um Patrick como amigo. E é bem esse o feeling mesmo. Enfim, um ótimo trio que foge de qualquer estereótipo que possa ser posto numa análise mais apressada.

Ainda além da fidelidade às personagens e à obra, o grande mérito do filme é transpor das páginas pra tela o mesmo sentimento, a mesma essência do livro. E uma das coisas que causa esse efeito é a trilha sonora. Contando com bandas como os Smiths e New Order, a trilha se alia perfeitamente à narrativa e remete constantemente às músicas que são mencionadas no romance. Aliada à música, a montagem das cenas supera uma aparente dificuldade de adaptação de texto pra imagem. No livro a única coisa a que temos acesso é o testemunho do protagonista através de suas cartas e embora talvez seja mais fácil mostrar com imagens do que palavras, o desafio de ser fiel aos sentimentos do Charlie é muito bem aceito na harmonia desses dois elementos. Afinal, qual imagem poderia representar mehor o romance do que um adolescente, de braços estendidos, percorrendo um túnel ao som de Heroes do David Bowie?


Enfim, depois disso só estou mais convencido de que o cinema e a literatura têm muito mais a ver do que às vezes nós nos permitimos pensar. Claro que é uma parcela muito pequena de autores que dominam os conceitos do cinema e podem fazer o que foi feito em The Perks of Being a Wallflower. Mas por isso mesmo achei tão bizarra essa experiência de presenciar um autor/roteirista/diretor. Mais autoral que isso, acho muito difícil. Quem me dera tivesse essa possibilidade e esse conhecimento uma J. K. Rowling ou uma Suzanne Collins, ou mais improvável ainda um J. R. R. Tolkien. Pra quem você reclamaria se não gostasse de uma obra que fosse adaptada dessa forma? Deus? But I digress. O ponto é: leia o livro, chore, tome um banho, espere até que tenha um torrent decente e sinta-se infinito.

Nota: 9,5.
"I know these will all be stories someday. And our pictures will become old photographs. We'll all become somebody's mom or dad. But right now these moments are not stories. This is happening [...] And in this moment I swear, we are infinite"

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

!onam, odiod emliF

E nessa empolgation toda com o fim da trilogia do Batman e tal, Christopher Nolan mandando muito bem nos três filmes, me dei conta de que nunca tinha visto nenhum outro filme do cara. Nem a bendita d'A Origem (Inception), sobre a qual ninguém conseguia calar a boca nos idos meados de 2010. Pois é, resolvi remediar essa minha falha procurando outra obra do diretor americano. E eis que me deparei com Memento, filme de 2000 que chamou a atenção da crítica pro ele.

Adaptado de um conto do irmão do Christopher, Johnathan Nolan, Memento nos traz a história de Leonard Shelby, um ex-investigador de seguros que sofre de perda de memória recente, por isso tatua em seu corpo tudo que precisa saber pra completar sua vingança: matar o suposto estuprador e assassino de sua esposa. A doença dele é tipo a da Lucy de Como Se Fosse A Primeira Vez, ele não consegue guardar novas memórias. Mas não é só quando ele dorme que tudo se apaga, pode ser do nada mesmo, então ele tá mais pra Dori, do Nemo, do que pra Lucy. Anyways, foco, Eduardo, foco. 

Pode esquecer a linha cronológica tradicional da grande maioria dos filmes. Logo na primeira cena, não só vemos o final da história, mas também o vemos de trás pra frente, como se rebobinado, estratégia que já anuncia a estrutura da narrativa. Seguem-se então duas linhas temporais. A primeira, em cores, mostra os eventos que imediatamente antecederam o final da história, mas aos poucos e do mais recente pro menos recente. A segunda, em preto e branco, se passa um pouco antes da primeira e segue a ordem temporal natural. Confuso, eu sei. Mas é assistindo que tudo se encaixa.

Na primeira meia hora do filme, achei que ia ficar manjada essa  história de contar tudo de trás pra frente e que isso não tinha objetivo algum, fora fazer algo só pra ser diferente. No entanto, os plot twists são tantos que só no final você se dá conta de que a emoção e o mistério da história só funcionam se forem contados dessa forma, especialmente quando as duas linhas temporais se encontram. Na verdade, até agora não sei se compreendi o filme por completo porque muitas são as coisas que voam pela tua cabeça. No final das contas, temos um espetáculo de narrativa que não te deixa um segundo sem pensar nas mil possibilidades pra solução do mistério. 

Nota: 9.
"Memory can change the shape of a room; it can change the color of a car. And memories can be distorted. They're just an interpretation, they're not a record, and they're irrelevant if you have the facts."

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Ressurgiu e Se Foi

Como já disse diversas vezes: em geral, não gosto de filmes de super-heróis. Pra mim, através de histórias manjadas e mais velhas que o mundo, eles são pouco mais do que empreitadas megalomaníacas dos grandes estúdios a fim de testar o que há de mais moderno nas tecnologias audiovisuais. "Ai, Eduardo, como tu é metido! Só quer pagar de intelectual!", diriam alguns. Sim, claro, só quero massagear meu ego intelectualizado com coisas sofisticadas e super complexas, por isso curto Avenida Brasil e séries como The Vampire Diaries. Mas o ponto é: meu desgosto pelo gênero se estende a filmes como Homem de Ferro (Iron Man) e Os Vingadores (Marvel's The Avengers), devendo ser devidamente excluída desse grupo a trilogia do Batman dirigida pelo Christopher Nolan. E é a comentar sobre o último episódio dessa saga que se destina este post.

A história do Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge (The Dark Knight Rises), cuja estreia no Brasil foi na última sexta-feira, 27, tem início oito anos depois da de seu antecessor Batman: O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight). Numa Gotham já pacificada, Bruce Wayne (Christian Bale) vive em reclusão em sua mansão enquanto a população se sente segura graças às rígidas leis criminais aprovadas após a morte do promotor Harvey Dent, pela qual o homem morcego acabou levando a culpa. Essa paz toda é quebrada, no entanto, com a aparição de Bane (Tom Hardy), vilão bizarro cujo objetivo é cumprir a missão da Liga das Sombras: destruir Gotham e toda a sua corrupção para salvar a humanidade.

Quanto ao aspecto técnico, achei o filme virtualmente impecável. Também pudera. Com um orçamento estimado em U$250.000.000 deve ter restado pouca coisa que os estúdios não quiseram/conseguiram fazer depois de tantas cenas de perseguição, porrada e explosões. Aliado à essa competência técnica temos também um elenco excepcional. Do Michael Cane, do Morgan Freeman e do Christian Bale nem preciso falar nada, certo? Da Anne Hathaway posso dizer que sempre soube que ela seria uma ótima Mulher Gato, apesar das desconfianças infundadas dos fãs de Batman. A Marion Cotillard já tinha me conquistado em Meia-noite em Paris (não, não vi Piaf ainda) e não foi surpresa nenhuma que ela tenha sido tão boa nesse também. E pra fechar temos o Tom Hardy coitado, encarregado de substituir o Heath Ledger no cargo de vilão. Mas, embora o Coringa tenha sido o melhor da trilogia, o Bane também foi bem interpretado e a trama dele muito bem escrita.

Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge quebra as limitações comuns de seu gênero e, além de focar no poder destrutivo do vilão e na capacidade redentora do herói, nos traz outros assuntos a serem tratados. O difícil debate acerca da energia nuclear, por exemplo, tem papel fundamental na trama, levando o próprio Bruce Wayne a privar o mundo de uma energia mais limpa diant e da possibilidade de transformá-la em uma arma de destruição em massa. Outro assunto controverso em que toca o filme é o impacto que a política e o capitalismo causam na vida dos pequenos mortais como nós, que mais sofremos com a corrupção que corre solta nas reuniões das grandes empresas e no mercado financeiro. O Christopher Nolan já disse não ter feito um filme político, mas fica bem claro que o terceiro e último capítulo da trilogia dele não se esgota na fórmula clássica do herói sofrido que destrói o vilão malvado pra salvar a Terra, tornando-se, assim, ainda em julho, um dos melhores do ano.

Nota: 9,5.
"There's a storm coming, Mr. Wayne. You and your friends better batten down the hatches, because when it hits, you're all gonna wonder how you ever thought you could live so large and leave so little for the rest of us."

sábado, 26 de maio de 2012

Rua do Pulo, 21

Resenha flash. Essa história de escrever só sobre os filmes que me interessam mais profundamente me limitam muito e eu acabo só dividindo aqui esses filmes mais sérios em detrimento dos que a gente vê só pra se divertir ou só pra passar o tempo. Então, o filme de hoje é o 21 Jump Street, ridiculamente chamado de Anjos da Lei em português, comédia que eu descobri já há uns meses através das boas críticas no Rotten Tomatoes, site que eu recomendo muito pra quem precisa de uma opinião antes de ver um filme.

O longa foi dirigido por Phil Lord e Chris Miller (que dirigiram Tá Chovendo Hambúrguer, mas trabalham mais na TV) e conta com as atuações do Jonah Hill (o gordinho de Superbad) e do Channing Tatum (Querido John) como protagonistas. 21 Jump Street é o endereço de uma das divisões do departamento de polícia que trabalha com policiais de aparência jovem, cujo trabalho é infiltrar-se em operações criminosas dentro de colégios e faculdades. Assim, Schmidt (Hill) e Jenko (Tatum) vão parar numa escola de Ensino Médio pra tentarem encontrar o traficante que vem introduzindo uma nova droga sintética entre os estudantes.

O filme é baseado na série de TV homônima, exibida no fim dos anos 80, que revelou o Johnny Depp como ídolo teen da época. A propósito, ele até faz uma participação especial nessa versão cinematográfica desse ano. Mas anyways, o longa é um daqueles besteróis pra adolescentes e jovens adultos, com várias piadas de sexo e drogas. Os roteiristas, no entanto, têm plena consciência disso e aproveitam a oportunidade pra descontruírem alguns estereótipos que tanto desgastaram o "gênero". O retorno ao colégio por parte dos protagonistas se revela, portanto, como uma surpresa pros dois, já que a configuração da dinâmica social mudou significativamente desde a época em que eles mesmos eram estudantes. Os adolescentes cool agora não são mais os atletas e as cheerleaders, mas aqueles preocupados com o meio ambiente e interessados em arte. Claro que essa própria imagem se revela falsa durante a trama, mas esse desencontro entre a experiência passada e a situação atual é um motivo recorrente na história.

Enfim, 21 Jump Street é uma comédia recheada de brincadeiras imaturas e hilárias que valem bem os 109 minutos de risadas. A química entre os protagonistas funciona muito bem e fica fácil de entendemos por que o nerd se torna amigo do atleta quando os dois vão pra academia de polícia. Além disso, o compromisso mais solto com o estilo besteirol e a liberdade pra brincar um pouco com as suas regras fazem do filme uma diversão até que digna.

Nota: 8,5.


 "Fuck you, Glee!"

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Vergonha

Aiai, qualquer dia desses escrevo com mais afinco algo profundo e super inovador sobre como a internet mudou nossa forma de acesso às obras de arte na contemporaneidade. Mas como não quero envergonhar meu professor de Teoria da Literatura II com uma filosofia capenga de mesa de bar, vou me limitar a comentar aqui o que de fato vim comentar. A questão é que esses dias estava dando uma olhada na filmografia da Carey Mulligan (Uma Educação, Não Me Abandone Jamais, Drive) na Wikipedia e me deparei com um filme do ano passado chamado Shame, estrelado pelo Michael Fassbender, o Magneto jovem desse último X-men.

Dirigido pelo Steve McQueen (Hunger), o longa nos conta a história de Brandon, um viciado em sexo que aparentemente tem uma vida normal. Ele tem um bom emprego numa empresa, tem um apartamento confortável e uma vida social normal. Até uma irmã meio doidinha ele tem a boa vontade de acolher. O problema é que esse vício começa a afetar alguns aspectos da vida dele, e o que era apenas algo vergonhoso, relegado à reclusão das quatro paredes do apartamento, passa a manchar sua imagem cuidadosamente criada. Assim, Brandon é forçado a lidar com partes obscuras de sua consciência que ameaçam arruinar sua vida.

Falando assim no seco, tipo, do cara que é viciado em sexo, talvez possa estar dando a ideia de que se trata de algo meio promíscuo ou erótico, mas o tratamento que o diretor dá ao tema é bem diferente. Nesse sentido, os aspectos técnicos têm um papel importante no desenrolar da história. A trilha sonora, por exemplo, é bem pesada com violinos e metais que as vezes parecem embalar um dramalhão de tragédia grega. A partir de pontos de vista não muito convencionais, a câmera também mal se mexe e há cenas que se estendem por minutos sem um corte sequer, o que obviamente mostra a qualidade da atuação. Sabe Deus quantas vezes ensaiaram aquilo pra parecer tão natural e sincero. Enfim, técnica e roteiro se juntam numa perfeita combinação pra contarem uma história sobre um assunto tão sensível.

Através desses elementos, Shame consegue, portanto, explorar a realidade do vício do protagonista em várias esferas, desde a pessoal e familiar até a do trabalho e a amorosa. Percebemos, assim, seus problemas emocionais e sua batalha com qualquer relacionamento que seja mais íntimo que seus encontros sexuais. Mesmo diante dos problemas de sua irmã, Brandon se esquiva e prefere a solidão da vida que antes tinha. No entanto, ele é o que a ela resta e seus laços de sangue podem ser as únicas coisas que podem ajudá-lo a superar as barreiras criadas pelo seu vício. Esse arco do personagem é muito bem desenvolvido e finalmente o diretor nos deixa decidir o desfecho desse turbilhão emocional pelo qual o protagonista passa.

Nota: 9.

"We're not bad people. We just come from a bad place."

quarta-feira, 23 de maio de 2012

3 New Girls

Maio já está na metade e nossas séries queridas chegaram a suas season finales (qual é o plural de "season finale"?), umas surpreendentes e outras decepcionantes. Dexter entrou na reta final, Walking Dead ficou melhor do que já era, American Horror Story viciou uma galera, Once Upon A Time mais ainda e Lame Game of Thrones nem se fala. Mas eu vim aqui pra falar de duas novas sitcoms que me conquistaram já nos primeiros episódios: New Girl e 2 Broke Girls.

Flashbackeando pra julho passado, lembro que tava pesquisando/stalkeando a Zooey Deschanel e vi na página dela na Wikipedia que ela estrelaria New Girl em setembro na Fox, ou seja, ganhando uma dose semanal de Zooey eu finalmente pararia de ver (500) Dias Com Ela ((500) Days of Summer) toda hora e de ficar baixando a filmografia dela. Já em outro artigo, vi que uma tendência dessas novas séries era apostar na capacidade cômica das protagonistas femininas, assim, além de New Girl, os canais americanos tavam contando com o sucesso de, entre outras, Are You There, Chelsea? e 2 Broke Girls. Essa primeira não me intrigou, mas a segunda já virou uma das minhas favoritas.

New Girl conta a história da Jess, uma professora que se vê sem um teto pra morar quando pega o noivo com outra com a boca na botija. Daí ela encontra um apartamento pra dividir com três caras, a princípio contrariados com a... excentricidade da nova colega de casa. Mesmo antes da exibição dos episódios a série logo recebeu o selo de aprovação dos críticos e foi eleita a série nova mais empolgante. Produzida através da técnica da single camera, ou seja, uma cena é formada por várias tomadas, New Girl é gravada sem a plateia tradicional das sitcoms e não possui aquelas risadinhas por trás, a laugh track.

É claro que pra mim o appeal inicial da série foi a protagonista, personagem perfeita pro tipo de atuação da Zooey Deschanel: mulheres meio vintages, meio dorks e doidinhas totalmente adoráveis. No entanto, a cada episódio, a qualidade do elenco de apoio só crescia, tanto que os próprios produtores apostaram em plots mais elaboradas pros outros caras da série, o que deu super certo ao ponto de eu achar que nem é a Jess a mais engraçada dos quatro. Enfim, o que mais gosto em New Girl é esse clima meio Friends de tiração de sarro, dramas românticos e o nosso humor do dia a dia que temos com os nossos próprios amigos.


2 Broke Girls conta a história de duas figuras quase que totalmente opostas, mas que são obrigadas pelas circunstâncias a juntarem suas forças. Uma é a Max (Kat Dennings, aquela que fez Nick and Norah), garçonete de uma lanchonete em Williamsburg no Brooklyn, e a outra é a Caroline (Beth Behrs, de quem nunca tinha ouvido falar), uma ex-blilionária cujo pai foi pra cadeia por fraude e desvio de dinheiro. Como o próprio nome da série sugere, essas duas mulheres sem um tostão acabam se juntando pra descolarem uns trocados a mais e melhorarem um pouquinho de vida. A série segue um formato mais tradicional, pois é filmada com múltiplas câmeras, tem aqueles cenários em forma de palco e apresenta a maldita da laugh track.

O mais legal de 2 Broke Girls é ver como o relacionamento de personagens tão diferentes se desenrola através de algo pela qual as duas protagonistas lutam juntas: abrir uma loja de cupcakes e sair da pobreza. Nesse sentido, a alma do programa tá no humor que esse choque de personalidades, backgrounds e visões de vida desperta. Ao mesmo tempo as piadas são extremamente atuais e atingem desde os "pobres" hipsters até a alta diversidade racial dos moradores do Brooklyn (o que gerou várias acusações de racismo de vários críticos, mas eu discordo deles nesse ponto, pois as personagens retratadas não seguem exatamente seus estereótipos raciais). Além disso, como em New Girl, o elenco de apoio é ótimo e também é parte essencial da graça, por isso, aqui destaco a Sophie, personagem hilária da Jennifer Coolidge, a.k.a. a mãe do Stifler. Enfim, só assistindo pra sacar.


Óbvio que não vi todas as séries que estrearam essa temporada, não estou no Ensino Médio, né? Mas essas com certeza valem a pena ver. Especialmente porque tantas outras que eu tanto curtia já ficaram muito chatas. Supernatural tá uma putaria desde a quarta temporada, The Big Bang Theory já me cansou e Grey's Anatomy is the new ER. O que me resta é buscar essas séries novas. Novas mesmo, já que não tenho saco pra começar a ver a tão falada How I Met Your Mother e suas mil temporadas. Assim, acabei encontrando Happy Endings, da qual posso falar numa outra oportunidade. Mas a questão é que New Girl e 2 Broke Girls me surpreenderam, não só pela grande capacidade cômica das protagonistas femininas, mas pelo olhar um pouco diferente do que a gente tá acostumado a ver em séries, sem levantar bandeiras de gêneros. A comédia não é prerrogativa de homens ou mulheres. A comédia é.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Top 5 Strangeland

Pra quem não lembra o Keane é aquela banda inglesa que estourou lá em 2004 com singles como Somewhere Only We Know e Everybody's Changing, depois em 2006 com Is It Any Wonder e Crystal Ball. Ttudo isso com um som baseado principalmente no piano. A banda - agora oficialmente um quarteto - não lançava um álbum de estúdio desde 2008 com o Perfect Symmetry. Até teve o Night Train, um EPzinho de brimks que eles gravaram durante uma turnê, mas esse era só uma pequena amostra do que eles realmente podiam fazer. E eis que finalmente, neste ano, eles gravam o Strangeland, o qual, segundo estimativas, já está no caminho de se tornar o quinto álbum da banda a alcançar o primeiro lugar nas paradas inglesas e no meu last.fm.


O álbum foi lançado oficialmente dia 7, mas obviamente vazou vários dias antes e eu não podia deixar de dar uma escutada, depois outra, depois outra. E nesse espírito de vício novo, resolvi fazer uma resenha do álbum, daí me toquei que eu não sei fazer resenhas de álbuns! Yay, então vou improvisar aqui e fazer um mix de resenha com meus tão recorrentes Top 5s. E mais, aviso logo que estou no início do vício, por isso as músicas do Strangeland que mais me chamaram atenção até agora foram as mais animadas (se é que podemos chamar o Keane de animado). Falo isso porque, com certeza, daqui a um mês estarei cortando meus pulsos com as mais lentas, que nem fiz com Bedshaped e Bad Dream. Então passemos às faixas que mais tenho ouvido.

5. On the Road

Já abro essa lista com a música mais "agitada" do álbum. O pianinho e a bateria mais ligeira do início já anunciam bem o clima da música, que combina com o título. Daí chega no refrão e dá a vontade de sair por aí de carro, a pé, de ônibus ou até de jegue. Enfim, música feita pra ouvir na estrada mesma.

4. Day Will Come

Essa é uma das músicas mais Coldplay/The Killers desse novo álbum. O Tom canta ela já num tom (ba-dunts) mais agudinho e já se liga num refrão e avisa pra gente que o nosso dia vai chegar, é só segurar as pontas que vai dar tudo certo, mano. I believe you, Tom!

3.You Are Young

Com certeza a melhor escolha pra abrir o álbum. Sem frescura, sem intro chamativa. A primeira coisa que ouvimos já é a voz do Tom junto com o piano pedindo pra gente ter fé e ficar até a escuridão passar. De fato, o sentimento é o do desconhecido de uma terra estranha. Mas todos temos tempo, pois somos jovens.

2. Silenced By The Night

Logo depois de You Are Young temos Silenced By The Night, primeiro single do Strangeland e, não coincidentemente, a primeira desse álbum que eu ouvi. Ainda vi junto com o clipe, então a impressão foi mais forte, logo é uma das em que mais me viciei até agora. Por alguma razão o tecladinho bonitinho me lembra canções natalinas. E acaba que a mensagem do refrão tem a ver com esse espírito de ressurgir e de nascer.

1. Disconnected

Uuuuuh, I feel like I just don't know you anymoooore! Alguém tira isso da minha cabeça, por favor! Que música awesome, cara. Esse é o Keane lindo fazendo uma das melhores músicas da carreira deles. Curiosamente, é uma música de break up fodida, mas linda linda. O clipe também vale muito a pena ser visto, só não barra o level creepy do de Crystal Ball, mas tem todo um estilo top sucesso na balada.

Enfim, o Keane nos presenteou esse ano com mais um álbum incrível cheio de músicas com aquilo que eles fazem de melhor: cantar aquilo que todos sentimos todo dia toda hora, de maneira simples, mas muito poderosa e completamente longe do senso-comum. O que me incomodou um pouquinho foi que pareceu que eles meio que quebraram a inovação no som deles ocorrida no terceiro álbum, com aquelas guitarras doidinhas e chamativas. O Strangeland fica num meio termo entre o Under The Iron Sea e o Perfect Symmetry. Parece que eles não quiseram seguir o caminho do Keane feliz do terceiro e se ajeitaram nem lá, nem aqui. Mas o que que eu tô falando, o Under The Iron Sea deve ser o melhor álbum deles, então não dá pra eu ser objetivo e imparcial nesse quesito. Pra terminar, nesse Strangeland, apenas senti falta daquele hitzão à la Everybody's Changing e Crystal Ball que tocaram incessantemente nas rádios até enjoar. Vai ver que isso até é algo bom considerando o que se toca nas rádios. Mas tá esperando o quê? Corre logo pro Pirate Bay!
"Já me queimei e me enganei tantas vezes. Andamos em círculos, o cego levando o cego. De alguma forma fomos desconectados"

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Feito Pra Impressionar

Ontem, domingão, foi o dia mais bonito do ano, não foi? Fiz 21 anos, ganhei festa surpresa, churrasco de família, livros e uma viagem ao cinema. Infelizmente esta última não foi 100% agradável por causa da escolha do filme, mas a galera foi o mesmo povo awesome de sempre, então tá tudo certo. Mesmo assim, tenho que dar uma passada aqui pra falar do tão esperado Os Vingadores (The Avengers).

Dirigido por Joss Whedon, experiente roteirista de TV (Buffy, Angel, Dollhouse), o longa gira em torno da formação do grande time de heróis que todos já sabem quem são, né? Tudo começa quando o irmão do Thor (Chris Hemsworth), o Loki (Tom Hiddleston), rouba um tal de Tesseract, um cubo de energia com potencial ainda pouco explorado. Loki pretende abrir um portal pra outra dimensão e trazer seu exército à Terra para assim nos subjugar. Diante disso, a S.H.I.E.L.D - a super agência secreta de segurança, liderada por Nick Fury (Samuel L. Jackson) - decide recrutar o Capitão América (Chris Evans), o Homem de Ferro (Robert Downey Jr.) e o Hulk (Mark Ruffalo), assistidos pela agente Natasha Romanoff (Scarlett Johansson), pra tentarem por um fim nos planos do deus nórdico.

Impressionante é uma palavra que define bem o filme visualmente. Perseguições, batalhas e explosões são todos retratados com a alta tecnologia sempre parte essencial desse tipo de produção. Tudo muito bem construído e com efeitos especiais incríveis e verossímeis. Claro que o 3D foi propositalmente adicionado pra arrancar um pouquinho mais de dinheiro dos nossos bolsos, já que nenhuma das cenas requeria o uso dessa estratégia pra se tornar mais chamativa. Além disso, os diálogos são outro ponto forte da obra. Ágeis e fáceis de se entender, estes também são, em diversas partes, bem engraçados, e não só por causa do Homem de Ferro, grande favorito de muitos. As piadas são bem criadase e se misturam bem ao clima de ação da trama.

Bom, passados os pontos positivos, posso falar dos que julguei serem negativos. Pra isso, vou logo falando que de forma alguma sou parte dessa cultura geek de super heróis, HQs, animes e afins. Minha geekzice é muito mais de televisão, filmes e literatura. Pra mim todas essas histórias são iguais e todos os personagens muito caricatos, cumprindo muito à risca sua função dentro da narrativa. Não há surpresas, não há dúvidas, tudo muito previsível. Dito isso, Os Vingadores se encaixa quase que perfeitamente nessa descrição. Com um vilão bem vilão e heróis bem heróis, o filme se desenrola muito tranquilamente, não impondo qualquer desafio pra seus telespectadores, firmando-se, assim, como mero espetáculo pros olhos.


Daí pode alguém falar "ué, mas o que você esperava de um filme de ação?". Obviamente, eu não esperava muito, mas creio absolutamente que ninguém é burro e que os produtores de filmes do gênero poderiam subestimar muito menos o público e unir os orçamentos zilhonários a roteiros que de fato fossem feitos pra ir além da megalomania visual. Nesse sentido, acho que poderiam ter adicionado um pouco mais de drama aos personagens, quase todos lineares do início ao fim. O que é o Capitão América senão a representação cabal dos valores imperialistas americanos? Sempre disposto a proteger a pátria de ameaças estrangeiras, quando seu próprio país é que envenena muitas das relações internacionais. O que é o Homem de Ferro senão nosso duvidável ideal de homem contemporâneo? Empresário rico, charmoso e engraçado. E o que dizer do Loki, a quem só faltava a gargalhada de vilão? Sem mencionar o fato de representar a temida ameaça estrangeira. Ou será que ninguém notou a fala do Senhor Capitão América, dispensando a divindade dos deuses nórdicos e afirmando categoricamente que só há um Deus e que ele não se veste daquela forma? Ou quem sabe quando Loki se impõe frente ao Hulk e este o faz de brinquedo ao arremessá-lo de um lado pro outro numa cena que é pra ser engraçada?

Por essas e por outras que tenho minhas reservas quanto a esses filmes. Por outro lado, sei que é possível fazer uma coisa melhorzinha. Fui exatamente com as mesmas expectativas assistir ao Batman: O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight) e quando saí do cinema, tava de queixo caído. Um excelente filme, com um ótimo roteiro, cheio de mudanças na trama, com atuações perfeitas e um protagonista realmente com uma história bem construída. Mas voltando ao Os Vingadores, fique à vontade pra descartar tudo que leu aqui, pois o filme também tem recebido elogios dos críticos, logo, quem sou eu do lado deles, certo? Mas faço a ressalva que até eles reconhecem a natureza supérflua da obra. Nesse sentido, concluo este post da seguinte forma. Se você quer ir ao cinema só pra se divertir, se passar nos efeitos visuais incríveis e rir bastante da comédia despreocupada, Os Vingadores é, com certeza, a melhor pedida talvez do ano inteiro. Agora não me peça pra participar do culto à exacerbação de apenas um aspecto do cinema, quando essas grandes produções podem explorar outros elementos igualmente apaixonantes.

Nota: 6.
"We're not a team. We're a time-bomb!"
*IMDB

sexta-feira, 20 de abril de 2012

(Not So) Soon

Como já embarquei de vez nessa vida de expectativas e clímaxes (qual o plural de "clímax"?) literários e cinematográficos sucessivos, não tem mais volta. E depois da espera gigantesca de mais de um ano por Jogos Vorazes (The Hunger Games), que mais do que ultrapassou as minhas expectativas, resolvi dividir aqui mais dois filmes pelos quais esperar neste ano: On the Road e The Great Gatsby. 

O primeiro é dirigido pelo Walter Salles (Diários de Motocicleta) e é baseado no romance homônimo do Jack Kerouac, considerado um dos melhores já escritos na língua inglesa. Eu já li e, puta merda, que livro foda. Ele trata do início da contra-cultura do pós-guerra nos Estados Unidos. Enquanto o país tentava se reerguer com valores baseados na família e tals, vários jovens da época - já putos com a guerra, com o governo e com o capitalismo - resolvem simplesmente deixar tudo pra trás e se jogar na estrada, atravessar o país de carro e conhecer tudo que ele tem a oferecer, isto é, deram início à chamada Geração Beat. 

Claro que muitas vezes eles são taxados de vagabundos e drogados justamente por não se encaixarem aos padrões da época, mas os valores por trás dessa negação foram importantíssimos nas décadas subsequentes porque esses beatniks se tornaram nada mais nada menos que os hippies que tanto defenderam a paz nos anos 60. Ou seja, vai ser um filmaço com o tiozinho que fez Control e foi super elogiado; ainda tem a Kirsten Dunst e a produção do Francis Ford Coppola. Tem também a songa monga da Kristen Stewart, mas nem essa vai conseguir estragar, justamente porque o papel dela é o que ela faz de melhor: cara de drogada.


The Great Gatsby também é baseado no romance homônimo de um americano - no caso, F. Scott Fitzgerald -, mas se passa algumas décadas antes de On the Road. São os efervescentes anos 20 americanos, período em que a economia do país estava em plena ascensão e a Lei Seca acabava de ser implementada, enriquecendo exponencialmente os contrabandistas de álcool. E é nesse cenário que o reservado Nick Carraway conhece Jay Gatsby, seu rico vizinho que é o anfitrião das mais extravagantes festas em sua mansão, localizada em Long Island, no leste do país.

O romance é muito frequentemente aclamado como um dos Great American Novels, os quais refletem com maestria os valores vigentes em determinada época da história dos EUA. Talvez a adaptação cinematográfica mais famosa do livro seja a de 1974, dirigida pelo mesmo Coppola e com Robert Redford no papel do Gatsby. A direção da versão deste ano, no entanto, é assinada por Baz Luhrman -  de Moulin Rouge e Australia - e tem no elenco apenas o DiCaprio como Gatsby, o Tobey Maguire como o protagonista Nick Carraway e também a minha mais nova crush Carey Mulligan (de Uma Educação, Não Me Abandone Jamais e Drive). Ou seja, mais um filmaço por que esperar.

Segundo o IMDB, a estreia de On The Road está prevista, aqui no Brasil, pro dia 15 de junho. Até lá ele já vai ter sido exibido até em Cannes, daí vamo' ver se esse esforço de décadas do Coppola valeu a pena. Já The Great Gatsby (ainda sem trailer) estreará nos EUA no Natal e deve chegar por aqui (exceto em Manaus, obviamente) lá pra janeiro. Agora só falta me dizerem também que O Apanhador no Campo de Centeio (The Catcher in the Rye) também vai virar filme, aí pronto! Só precisariam de um adolescente muito foda pra interpretar o protagonista, mas deve ter algum perdido por aí. Anyways, esses são alguns dos filmes que eu já tô esperando pra ver. E não me venha com essa porra de Vingadores!

terça-feira, 10 de abril de 2012

Meu Lolla Weekend

Nunca usei este blog como querido diário porque, bem, a quem interessaria meu esquema "escola-cinema-clube-televisão"? Contudo, esse último fim de semana foi fora do comum o bastante pra ser aqui relatado. Desde o dia 5 estive em São Paulo por ocasião do Festival Lollapalooza e só retornei a essa minha Manaus do coração hoje. E como eu escrevo sobre música só a cada três meses, ja é algo a mais que posto aqui sobre o assunto.

Tudo começou na última quinta-feira aqui em Manaus mesmo, quando tomamos um chá de cadeira bonito no aeroporto. Chegamos lá às 2h30 e só saímos às 13h30 por causa da neblina que parou tudo até de manhã cedo. Além disso, a Gol muito competentemente ficou adiando e adiando nosso voo até a tarde e nessa brincadeira perdemos o dia em São Paulo. Mas deixa estar, o ponto alto da quinta seria o show do Foster The People às 22h no Cine Joia, no bairro da Liberdade. 


E foi o ponto alto de fato. Mesmo entrando exatamente na hora do show, não ficamos longe do palco porque o lugar era pequeno e era em formato de teatro. Desde Houdini, a primeira que a banda californiana tocou, não dava pra ficar parado nem nas músicas lentas. A percussão é essencial na apresentação dos caras, tanto que a bateria não fica no fundo do palco como de costume, mas bem na frente, assim é impossível não se empolgar junto com os integrantes e pirar na batida. E falando em pirar, tenho que falar que o vocalista, o Mark Foster, é mestre. O cara tem umas dancinhas muito dorks e interage o tempo todo com o público. A galera também não ficou pra trás, cantou a maioria das músicas  junto com a banda e confirmou que o público brasileiro é um dos melhores públicos do mundo em termos de empolgação. Fiquei orgulhoso da gente também porque a música que mais bombou não foi Pumped Up Kicks, como era de se esperar, mas Call It What You Want e Don't Stop, durante as quais o Cine Joia quase vinha a baixo. Enfim, um show muito foda que só me fez ficar mais fã da banda.

Já na sexta, 6, fomos a uma exposição no Parque Ibirapuera sobre a história do rock. Foi um programa bem light e ainda tudo a ver com a razão toda da viagem. De noite ainda rolou uma Augusta, mas voltamos não muito tarde porque sábado e domingo eram dias de rock, bebê.

O clima de Lollapalooza no dia 7 já começou no metrô. Era bem fácil discernir a hipsterzada no meio do povo com seus wayfarers e roupas xadrez, falando dos shows que queriam assistir e tudo mais. Depois de uma boa meia hora de fila com essa galera do lado de fora do Jockey, finalmente chegamos na mega estrutura montada pro festival. Vários palcos espalhados e intercalados pelos caixas, bares, lanchonetes, banheiros e stands promocionais dos patrocinadores. Tudo, na minha opinião, bem planejado e sem confusões quanto às filas e à circulação de pessoas. Claro que lá pras 6h da tarde as filas do caixa estavam gigantescas e a galera tava reclamando, mas me safei dessa porque já tinha comprado várias fichas assim que cheguei. Mas passemos ao que interessa de verdade: Música!


O primeiro show a que assisti no sábado foi o do Cage The Elephant. Eu já conhecia algumas poucas músicas da banda, mas, infelizmente, a primeira dos caras que eu ouvi foi Shake Me Down e não tinha curtido muito por causa da voz irritante do vocalista, daí nunca tive saco pra baixar e ouvir o resto. O show, no entanto, foi uma boa supresa pros meus ouvidos descrentes. Embora fosse um show vespertino, a galera tava pilhada na apresentação no mínimo energética da banda, protagonizada pelo vocalista loucaço que gritava e corria pelo palco e que, duas vezes, se jogou no povo que não parava de gritar "jump! jump! jump!". Muito bom o show deles! Em seguida, depois de um intervalinho de uma hora, vi o show do Band Of Horses no mesmo palco. Esse, sim, tinha aquele climinha mais fim de tarde, com músicas calminhas e tal. Até conhecia umas três e  pude ver que a banda tava realmente feliz de 'tar aqui no Brasil tocando praquele povão todo. Definitivamente passarei a ouvir mais.

Finalmente, de noite, teve o show do headliner mais esperado do festival: Foo Fighters. Só que a coisa meio que desandou nesa hora. Acabei me perdendo da galera com quem eu tava e como eu não tava meeeesmo a fim de ser esmagado no show de uma banda da qual eu nem gosto, resolvi ver o show lá do fundão sentadinho e explicando pra menina do meu lado que em Manaus existe civilização. Agora é inegável que o Dave Grohl é o cara! Putz, ele agita muito a galera, canta e toca pra cacete, fala sobre as músicas e sem grandes pretensões. Ainda por cima faz o povo pular por duas horas e meia e ainda chama a Joan Jett pra cantar com eles no final. Muito muito bom o show deles. Não curto o som, mas tenho que admitir.

Vendo que era impossível assistir a todos os shows e ainda assim ficar perto da grade no sábado, decidimos no domingo acampar, assim que chegássemos, em frente ao palco em que os Arctic Monkeys tocariam. Nisso, teríamos que sacrificar Friendly Fires e MGMT, maaas, prioridades... Claro que mesmo chegando às 15h já tinha uma galera lá esperando o show que só seria às 21h30. Mas até que a espera da tarde foi tranquila, o sol não tava tão forte e as bandas ajudavam a esquecer o cansaço. A primeira que vi foi Thievery Corporation, uma salada muito louca de soul, reggae e rap, sem contar que tinha bem uns 5 vocalistas que se revezavam em cada estilo. Legalzinha e relax no começo, mas com meia hora já tava enjoado. Não é meu estilo. Uma hora depois entrou a Manchester Orchestra, a qual eu muito idiotamente achei que se tratava de fato de uma orquestra quando olhei a programação. Surpreendentemente gostei muito dessa banda americana. Eles tocam um rock lentinho com umas guitarras pesadas. Vale a pena procurar.

Já à noite vimos os shows que nos fizeram viajar 2000 km cruzando o país. Às 19h o Foster The People subiu ao palco e tirou aquele povo todo do chão. O público não foi tão bom quanto no show próprio deles, obviamente, mas muitos dos que tavam ali pra ver Arctic Monkeys pulavam e se empolgavam nas horas certas, fechando com chave de ouro essa turnê da banda, a qual eu sinceramente espero que não seja mais uma One Hit Wonder. Com uma plateia gigante como aquela, o vocalista se soltou ainda mais e até foi elogiado pelos chatos do G1. Terminada a apresentação - 15 minutos antes do previsto! - começou a maldita espera pelos Monkeys. Nisso, a galera que deixou o Jane's Addiction de lado já foi se empurrando pro palco principal. Mil anos depois, com as pernas e as costas doídas, a galera dá boas vindas insanas à banda inglesa mais esperada do dia. Já nas primeiras músicas eu temo pela minha vida. Berrando as letras das músicas, o Lollapalooza vai a loucura e a área ali próxima da grade vira um liquidificador, daí meus óculos começam a embaçar e eu do alto do meu 1,69m mal vejo o palco, ou seja, hora de vir um pouquinho pra trás. E é agora que eu cyber-apanho dos fãs de Arctic Monkeys. Cara, não curto esse setlist novo deles. Também não sei o que aconteceu comigo e com a banda. Era muito fã no primeiro álbum, curti o segundo, não suportei o terceiro e me viciei demais no quarto. Agora no show parece que eles escolheram as músicas mais chatas, sei lá, e tocaram poucas do novo álbum. Sério, não curti tanto quanto achei que curtiria. Achei também o cúmulo terminarem o show com 505, seriously, fim de noite total, que nem o Muse terminando com Take A Bow. Se bem que aqui também não posso deixar de comentar o talento absoluto do Alex Turner. O cara toca demais, canta demais e ainda fez um esforcinho pra agradar a nós brasileiros carentes que curtimos até aquele "obrigado" cheio de sotaque. Ótima performance do cara. Merece todos os elogios.

E foi isso, gente. Essa foi minha primeira aventura em um festival de grande porte. Foi uma ótima primeira experiência. Conheci bandas novas, conheci pessoas diferentes, expliquei mil vezes que Manaus é uma cidade normal, mas faz parte. Talvez da próxima vez não me concentre em um só palco como no segundo dia, mas, dependendo da banda, super vale a pena ficar lá na frente com o resto dos fãs e cansar de pular. Já há rumores de The Killers no fim do ano no Terra. Quero nem pensar pra não sofrer por antecipação. Ainda mais que eles possivelmente estarão com álbum novo. Mas isso é assunto futuro e esse post já tá grande demais. A impressão que fica do Lollapalooza é, afinal, a ótima organização, a mistura de ritmos e pessoas e todos ali unidos pacificamente pelo amor à música, embora o preço cobrado por toda essa estrutura ainda exclua muitos de algo tão universal quando a arte.

domingo, 1 de abril de 2012

Fiel e Um Pouco Mais

Do Tratado de Traição: em penitência por sua insurreição, cada distrito oferecerá um cidadão de cada sexo de 12 a 18 anos de idade em uma "Colheita" pública. Esses tributos serão entregues à custódia da Capital e então transferidos à uma arena pública, onde lutarão até a morte até que reste apenas um vencedor. Esse torneio, doravante e para todo o sempre, ficará conhecido como Jogos Vorazes.
Como outras promessas já feitas neste blog, quebrei mais uma, pois não postei esta bendita resenha de Jogos Vorazes (The Hunger Games) no último fim de semana. Por outro lado, já vi o filme quatro vezes, assim, pude analisá-lo sob diferentes estados de espírito. Na primeira vez, a euforia em pessoa; na segunda, prestando atenção aos detalhes; na terceira, tentando vê-lo como alguém que não leu os livros; e na quarta, estando 30 horas acordado, achando o filme mais triste do ano. Logo, este texto é fruto de bastante ponderação e análise.

Começando pela adaptação livro/filme, posso dizer que não houve problemas. Sempre que saía de uma sessão de estreia de Harry Potter, por exemplo, era a mesma coisa... "E a cena das garrafas e do jogo de lógica?? E a cena do quadribol??". E isso não era o pior. Ruim mesmo era quando inventavam outras cenas pra cobrir os buracos. Hoje critico menos o modo como Harry Potter foi feito porque entendo um pouco melhor o processo complicado de adaptar livros. No entanto, talvez pela própria estrutura da obra da Suzanne Collins, isso não acontece em Jogos Vorazes. Embora muitas cenas na Arena sejam mais aceleradas, tá tudo ali, bonitinho. Além disso, o diretor e os roteiristas deram um passo à frente e nos libertaram da visão em primeira pessoa do livro. Se neste a protagonista especulava e calculava o que se passava em outros lugares, o filme de fato nos mostra esses outros lugares. Eles podiam ter escolhido o caminho mais fácil e simplesmente terem metido uma narradora em off, mas aí não teria nem a metade do brilho que teve. Dando aos espectadores acesso às cenas não vistas no livro só fortaleceu, portanto, o argumento da obra e ainda deixou ótimos ganchos pra sequência Em Chamas.

Quanto ao elenco, não sei nem o que dizer. Ok, eu tinha minhas reservas quanto a escolhas como Woody Harrelson e Lenny fucking Kravitz, mas mesmo estes conseguiram fazer um bom trabalho, embora suas atuações se diferenciem um pouco do que eu tinha imaginado no livro. Agora o que é exatamente como no livro é o trabalho de atores como o Stanley Tucci e a Elizabeth Banks. Sério, acho que ninguém mais teria feito um Caesar Flickerman, popular apresentador da Capital, tão bem quanto ele, com o jeito afetado e com o carisma que ajuda até os mais nervosos dos tributos na entrevista. No filme ele ainda é promovido a comentarista dos jogos, transmitindo ao público detalhes somente pensados pela protagonista no livro. Quanto à Effie da Elizabeth Banks só digo uma coisa: na mosca, cada fala é dita com muita propriedade, é hilária sem querer ser. Até o Liam Hemsworth, cara, com quem eu tanto implicava, me fez gostar do Gale, melhor amigo da Katniss. Acreditei cego na relação forte desses dois. Já Josh Hutcherson é Peeta Mellark. E Peeta Mellark é Josh Hutcherson. E o que dizer sobre Jennifer Lawrence? Dizer que ela carrega o filme nas costas seria uma injustiça com um elenco tão bom, mas, não sei, toda a fibra, a força, a fraqueza, a resiliência de uma personagem tão complexa estão perfeitamente personificadas na atuação dessa criatura. Eu olhava pra cara dela e parágrafos e parágrafos do livro se repetiam na minha mente. Provou cabalmente porque tem uma indicação ao Oscar.

Agora passando ao quesito "efeitos visuais e sonoros", já adianto que não estava preparado pro que ali vi. Nunca tinha visto um filme do Gary Ross, mas esse filho da mãe me surpreendeu num filme cujo livro li três vezes. A câmera chacoalhando loucamente em certas horas dava um ar de filme independente e a ausência de som na cena da Colheita só piora a tensão de um momento já naturalmente tenso. Já a cena mais violenta do livro, o banho de sangue no início dos jogos, não podia ter o mesmo impacto porque, bem, a classificação indicativa é de 12 anos, mas o quê que o Senhor Ross fez? Simplesmente cortou o áudio original e colocou um belo zumbido nos nossos ouvidos, enquanto isso, adolescentes se matam diante dos nossos olhos sem dó e piedade, ou seja, jogada de mestre que satisfaz os desavisados que só querem ver sangue e também não choca os guardiães da pureza das crianças. Por essas e outras é que mais um indicado ao Oscar prova sua competência no processo de adaptação de uma trilogia já bastante popular. Torna-se muito claro que o diretor compreendeu perfeitamente que a experiência da leitura é uma, e que a experiência audiovisual do cinema é outra. Ao mesmo tempo, ambas se unem harmonicamente e dividem a mesma essência originalmente pensada pelo gênio da Suzanne Collins.

Gente, eu já sabia desde o início que não conseguiria fazer uma resenha 100% imparcial, mas juro que tentei procurar algo significativamente ruim nesse filme, no entanto, não consegui, juro! O quê que eu ia escrever aqui? Que o gato da Prim no livro é amarelo e no filme é preto? Que a cornucópia no livro é dourada e no filme é prateada? Jogos Vorazes, embora tenha origem num livro, é um filme que tem voz e estilo próprios. Utiliza-se justamente dos elementos que diferenciam a literatura do cinema a seu favor. Se no livro temos a impossibilidade de ver ou ouvir - sem ser na nossa imaginação obviamente -, no filme temos uma experiência muito rica que trabalha muito bem esses sentidos, sem o temor de confundir ou alienar os espectadores. Da mesma forma, todos os conflitos são debatidos de forma direta, não são tão mastigados pra agradar a audiência. Os bastidores de um governo totalitário disfarçado são revelados com ótimos diálogos. A troca de papéis dos gêneros - a mulher forte e homem a ser protegido - também são tratados com naturalidade e sem desdém. Resumindo, uma adaptação que explora super bem sua obra original, mas que não tem medo de se provar como filme separado da literatura. Nessa experiência, saem ganhando os fãs e aqueles espectadores sem compromisso.

Nota: 9,5.
"Hope. It is the only thing stronger than fear"
 *IMDB

Top 5 Janeiro-Março

E aí, povo? Como foi esse primeiro quarto de 2012 pra vocês? Pra mim foi metade party hard e metade "trabalha, Eduardo, trabalha!". Tô cansado. Mas continuando a série musical de posts trimestrais, passemos às músicas que mais ouvi de janeiro a março.

5. Safe And Sound - Taylor Swift feat. The Civil Wars

Calma! Antes de fechar esta aba, deixem-me explicar! Sim, ouvi muito Taylor Swift esses meses, mas só essa mesmo, eu juro! Safe And Sound é o tema oficial de Jogos Vorazes, que estreou vorazmente no último dia 23 e me fez roer as unhas por um ano de espera. E é óbvio que quando lançassem a trilha oficial eu a ouviria, mesmo sendo Taylor Swift D: Ela engloba bem o espírito do livro e, pelo menos, não é uma daquelas de namoradinho que ela geralmente lança.

4. Crediário - Mezatrio

Finalmente uma desse meu Amazonas lindo! A Mezatrio foi uma das primeiras bandas com que tive contato quando comecei a explorar a cena mais alternativa de Manaus. De primeira, não suportava as músicas e quase dormia no show dos caras. Claro, tinha 15 anos e só queria ouvir Arctic Monkeys e Strokes, mas isso foi há seis anos já. Aos poucos comecei a ouvi-los com mais cuidado e a me passar demais nas letras e nos shows muito bem executados. Hoje eles já estão prestes a lançar o segundo álbum, logo, definitivamente estarei lá nas próximas apresentações.

3. Tokyo (Vampires & Wolves) - The Wombats

Mais uma pra série de bandas pras que eu só fui dar importância depois de meses do lançamento do álbum, apesar de todas as recomendações. Esse segundo álbum do Wombats foi lançado em abril do ano passado e eu só cheguei a escutá-lo em janeiro. Nem sabia que estava com saudades de uma bandinha britânica mais dançantezinha - Oh, Franz, what ever happened to you, guys? O fato é que me viciei demais nessa daí e até em karaokê eu já cantei! 

2. Beach Sluts - Howler

Como já anunciado no último post desta série, a Howler foi realmente uma das bandas mais faladas esses tempos. Enfim, lançaram seu álbum de estreia e aí está mais um single que não sai da minha cabeça. Até bato palminha dirigindo e cantando junto com a música. Surf rock simplesinho e relax.

1. Video Games - Lana Del Rey

Hipsters, corram pras montanhas! A mais nova modinha, geneticamente programada pra agradar os "pseudo-alternativos", está no primeiro lugar, que horror! Anyways, digam que ela é produto de gravadora, digam que ela encomenda suas músicas, digam que ela é uma riquinha pagando de artista. Eu só digo uma coisa: quando eu aperto o play, não é o dinheiro da gravadora que eu escuto, mas essa mulher com voz de enterro cantando coisas ora tristes, ora sexys, ou ambas ao mesmo tempo.

É isso, povo. Legal é comparar essa lista com o que eu estava ouvindo há um ano e lembrar do estado de espírito da época, outra vibe. Mas que venha abril! E meu aniversário no fim do mês!

quarta-feira, 21 de março de 2012

Dez Razões Para Se Ver Jogos Vorazes

#1 O Livro É Foda

Tam dam dam dam daaaam (8) E este post finalmente chega à sua derradeira, e ao mesmo tempo primeira, parte. Amanhã é dia de se preparar pscicologicamente e, enfim, na sexta-feira ver se Jogos Vorazes corresponde à toda hype da qual vem gozando ultimamente. Muito se fala que o filme já bateu recordes de pré-venda e que o elenco é ótimo e blá blá blá, mas a verdadeira razão pela qual alguém deve assistir uma adaptação como essa é que o livro é foda, pelo simples fato de que, sem o livro, sem aquela faísca de inspiração, suor e loucura de um ser humano, não existiria um filme do qual falar. Por isso, o post de hoje se dedica inteiramente ao mundo criado por Suzanne Collins.

Como já dito aqui mil vezes, Jogos Vorazes é o romance de abertura da trilogia de mesmo nome e nos conta a história de Katniss Everdeen. Katniss é uma adolescente de 16 anos que, ao ver sua irmã sendo escolhida como tributo pros terríveis Jogos Vorazes, se voluntaria como representante do Distrito 12. As regras dos Jogos Vorazes são simples: os 24 tributos dos dozes distritos devem lutar em uma perigosa arena até a morte; o último que restar será o vencedor e retornará podre de rico pra casa. Acontece que o Distrito 12 é um dos mais pobres de Panem - que são as sobras do que um dia foram os Estado Unidos da América -, então, as chances de sobrevivência da protagonista são muito poucas. No entanto, Katniss ainda possui algumas habilidades que talvez possam ajudá-la nessa cruel batalha pela vida.

Uma das coisas que mais me intrigaram no livro foi a narração em primeira pessoa no tempo presente. A protagonista nunca diz "olhei", "fiz", "corri", mas, "olho", "faço", "corro". Usando esse tempo verbal, ela nos leva numa viagem junto com ela. Não se trata mais de uma personagem contando suas histórias, mas de uma personagem vivendo aquilo tudo ao mesmo tempo em que você lê, o que causa no leitor uma sensação de extrema insegurança quanto ao seu futuro, se é que ele existe. Essa sensação só se confirma mais ainda devido ao ritmo rápido e aos inúmeros perigos presente na história. O fato de presenciarmos os acontecimentos e sabermos seus pensamentos ao mesmo tempo acaba gerando uma grande ligação entre leitor e personagem e essa é uma das razões pelas quais é tão difícil largar o livro.

A história também se constrói sempre em torno de contrastes, desde emocionais até ideológicos. Temos figuras maternas problemáticas em oposição a figuras paternas mais bondosas e tolerantes; amizades sinceras e alianças de interesse; distritos miseráveis e uma Capital moderníssima (te lembra alguma coisa?); jogos vorazes e a diversão de toda uma população. E por aí vai. O mais impressionante é a densidade das personagens que navegam quase sem rumo nesse mar de oposições, principalmente a da protagonista. Nem sempre seus motivos são os mais bem intencionados, mas ela sempre faz o que acha melhor ou necessário. Ao mesmo tempo que receia o amor da mãe, move mundos e fundos pela irmã. Ao mesmo tempo que descobre que não passa de uma pecinha no grande jogo da Capital, ela arranja uma forma de se rebelar e controlar seu próprio destino. E essa pra mim é uma das grandes marcas da Katniss e da criação da autora, a capacidade do ser humano de conciliar suas oposições internas e manter sua integridade mesmo nas situações mais extremas, o que não acontece com alguns personagens...

Pra ver como todos esses elementos se juntam e criam essa complexa teia de intenções e interesses, só precisamos esperar até sexta-feira, dia 23, e conferir a releitura de Jogos Vorazes do diretor Gary Ross, a qual, diga-se de passagem, tem recebido inúmeros elogios por complementar a visão em primeira pessoa da protagonista. No fim de semana, obviamente, estarei de volta pra comentar aqui o filme, mas até lá, essas são as minhas dez razões pra se ver a adaptação de um livro pelo qual me apaixonei à primeira lida e em que me tanto dá prazer mergulhar e reler até hoje. E, como sempre, que a sorte esteja a seu favor!