segunda-feira, 30 de abril de 2012

Feito Pra Impressionar

Ontem, domingão, foi o dia mais bonito do ano, não foi? Fiz 21 anos, ganhei festa surpresa, churrasco de família, livros e uma viagem ao cinema. Infelizmente esta última não foi 100% agradável por causa da escolha do filme, mas a galera foi o mesmo povo awesome de sempre, então tá tudo certo. Mesmo assim, tenho que dar uma passada aqui pra falar do tão esperado Os Vingadores (The Avengers).

Dirigido por Joss Whedon, experiente roteirista de TV (Buffy, Angel, Dollhouse), o longa gira em torno da formação do grande time de heróis que todos já sabem quem são, né? Tudo começa quando o irmão do Thor (Chris Hemsworth), o Loki (Tom Hiddleston), rouba um tal de Tesseract, um cubo de energia com potencial ainda pouco explorado. Loki pretende abrir um portal pra outra dimensão e trazer seu exército à Terra para assim nos subjugar. Diante disso, a S.H.I.E.L.D - a super agência secreta de segurança, liderada por Nick Fury (Samuel L. Jackson) - decide recrutar o Capitão América (Chris Evans), o Homem de Ferro (Robert Downey Jr.) e o Hulk (Mark Ruffalo), assistidos pela agente Natasha Romanoff (Scarlett Johansson), pra tentarem por um fim nos planos do deus nórdico.

Impressionante é uma palavra que define bem o filme visualmente. Perseguições, batalhas e explosões são todos retratados com a alta tecnologia sempre parte essencial desse tipo de produção. Tudo muito bem construído e com efeitos especiais incríveis e verossímeis. Claro que o 3D foi propositalmente adicionado pra arrancar um pouquinho mais de dinheiro dos nossos bolsos, já que nenhuma das cenas requeria o uso dessa estratégia pra se tornar mais chamativa. Além disso, os diálogos são outro ponto forte da obra. Ágeis e fáceis de se entender, estes também são, em diversas partes, bem engraçados, e não só por causa do Homem de Ferro, grande favorito de muitos. As piadas são bem criadase e se misturam bem ao clima de ação da trama.

Bom, passados os pontos positivos, posso falar dos que julguei serem negativos. Pra isso, vou logo falando que de forma alguma sou parte dessa cultura geek de super heróis, HQs, animes e afins. Minha geekzice é muito mais de televisão, filmes e literatura. Pra mim todas essas histórias são iguais e todos os personagens muito caricatos, cumprindo muito à risca sua função dentro da narrativa. Não há surpresas, não há dúvidas, tudo muito previsível. Dito isso, Os Vingadores se encaixa quase que perfeitamente nessa descrição. Com um vilão bem vilão e heróis bem heróis, o filme se desenrola muito tranquilamente, não impondo qualquer desafio pra seus telespectadores, firmando-se, assim, como mero espetáculo pros olhos.


Daí pode alguém falar "ué, mas o que você esperava de um filme de ação?". Obviamente, eu não esperava muito, mas creio absolutamente que ninguém é burro e que os produtores de filmes do gênero poderiam subestimar muito menos o público e unir os orçamentos zilhonários a roteiros que de fato fossem feitos pra ir além da megalomania visual. Nesse sentido, acho que poderiam ter adicionado um pouco mais de drama aos personagens, quase todos lineares do início ao fim. O que é o Capitão América senão a representação cabal dos valores imperialistas americanos? Sempre disposto a proteger a pátria de ameaças estrangeiras, quando seu próprio país é que envenena muitas das relações internacionais. O que é o Homem de Ferro senão nosso duvidável ideal de homem contemporâneo? Empresário rico, charmoso e engraçado. E o que dizer do Loki, a quem só faltava a gargalhada de vilão? Sem mencionar o fato de representar a temida ameaça estrangeira. Ou será que ninguém notou a fala do Senhor Capitão América, dispensando a divindade dos deuses nórdicos e afirmando categoricamente que só há um Deus e que ele não se veste daquela forma? Ou quem sabe quando Loki se impõe frente ao Hulk e este o faz de brinquedo ao arremessá-lo de um lado pro outro numa cena que é pra ser engraçada?

Por essas e por outras que tenho minhas reservas quanto a esses filmes. Por outro lado, sei que é possível fazer uma coisa melhorzinha. Fui exatamente com as mesmas expectativas assistir ao Batman: O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight) e quando saí do cinema, tava de queixo caído. Um excelente filme, com um ótimo roteiro, cheio de mudanças na trama, com atuações perfeitas e um protagonista realmente com uma história bem construída. Mas voltando ao Os Vingadores, fique à vontade pra descartar tudo que leu aqui, pois o filme também tem recebido elogios dos críticos, logo, quem sou eu do lado deles, certo? Mas faço a ressalva que até eles reconhecem a natureza supérflua da obra. Nesse sentido, concluo este post da seguinte forma. Se você quer ir ao cinema só pra se divertir, se passar nos efeitos visuais incríveis e rir bastante da comédia despreocupada, Os Vingadores é, com certeza, a melhor pedida talvez do ano inteiro. Agora não me peça pra participar do culto à exacerbação de apenas um aspecto do cinema, quando essas grandes produções podem explorar outros elementos igualmente apaixonantes.

Nota: 6.
"We're not a team. We're a time-bomb!"
*IMDB

sexta-feira, 20 de abril de 2012

(Not So) Soon

Como já embarquei de vez nessa vida de expectativas e clímaxes (qual o plural de "clímax"?) literários e cinematográficos sucessivos, não tem mais volta. E depois da espera gigantesca de mais de um ano por Jogos Vorazes (The Hunger Games), que mais do que ultrapassou as minhas expectativas, resolvi dividir aqui mais dois filmes pelos quais esperar neste ano: On the Road e The Great Gatsby. 

O primeiro é dirigido pelo Walter Salles (Diários de Motocicleta) e é baseado no romance homônimo do Jack Kerouac, considerado um dos melhores já escritos na língua inglesa. Eu já li e, puta merda, que livro foda. Ele trata do início da contra-cultura do pós-guerra nos Estados Unidos. Enquanto o país tentava se reerguer com valores baseados na família e tals, vários jovens da época - já putos com a guerra, com o governo e com o capitalismo - resolvem simplesmente deixar tudo pra trás e se jogar na estrada, atravessar o país de carro e conhecer tudo que ele tem a oferecer, isto é, deram início à chamada Geração Beat. 

Claro que muitas vezes eles são taxados de vagabundos e drogados justamente por não se encaixarem aos padrões da época, mas os valores por trás dessa negação foram importantíssimos nas décadas subsequentes porque esses beatniks se tornaram nada mais nada menos que os hippies que tanto defenderam a paz nos anos 60. Ou seja, vai ser um filmaço com o tiozinho que fez Control e foi super elogiado; ainda tem a Kirsten Dunst e a produção do Francis Ford Coppola. Tem também a songa monga da Kristen Stewart, mas nem essa vai conseguir estragar, justamente porque o papel dela é o que ela faz de melhor: cara de drogada.


The Great Gatsby também é baseado no romance homônimo de um americano - no caso, F. Scott Fitzgerald -, mas se passa algumas décadas antes de On the Road. São os efervescentes anos 20 americanos, período em que a economia do país estava em plena ascensão e a Lei Seca acabava de ser implementada, enriquecendo exponencialmente os contrabandistas de álcool. E é nesse cenário que o reservado Nick Carraway conhece Jay Gatsby, seu rico vizinho que é o anfitrião das mais extravagantes festas em sua mansão, localizada em Long Island, no leste do país.

O romance é muito frequentemente aclamado como um dos Great American Novels, os quais refletem com maestria os valores vigentes em determinada época da história dos EUA. Talvez a adaptação cinematográfica mais famosa do livro seja a de 1974, dirigida pelo mesmo Coppola e com Robert Redford no papel do Gatsby. A direção da versão deste ano, no entanto, é assinada por Baz Luhrman -  de Moulin Rouge e Australia - e tem no elenco apenas o DiCaprio como Gatsby, o Tobey Maguire como o protagonista Nick Carraway e também a minha mais nova crush Carey Mulligan (de Uma Educação, Não Me Abandone Jamais e Drive). Ou seja, mais um filmaço por que esperar.

Segundo o IMDB, a estreia de On The Road está prevista, aqui no Brasil, pro dia 15 de junho. Até lá ele já vai ter sido exibido até em Cannes, daí vamo' ver se esse esforço de décadas do Coppola valeu a pena. Já The Great Gatsby (ainda sem trailer) estreará nos EUA no Natal e deve chegar por aqui (exceto em Manaus, obviamente) lá pra janeiro. Agora só falta me dizerem também que O Apanhador no Campo de Centeio (The Catcher in the Rye) também vai virar filme, aí pronto! Só precisariam de um adolescente muito foda pra interpretar o protagonista, mas deve ter algum perdido por aí. Anyways, esses são alguns dos filmes que eu já tô esperando pra ver. E não me venha com essa porra de Vingadores!

terça-feira, 10 de abril de 2012

Meu Lolla Weekend

Nunca usei este blog como querido diário porque, bem, a quem interessaria meu esquema "escola-cinema-clube-televisão"? Contudo, esse último fim de semana foi fora do comum o bastante pra ser aqui relatado. Desde o dia 5 estive em São Paulo por ocasião do Festival Lollapalooza e só retornei a essa minha Manaus do coração hoje. E como eu escrevo sobre música só a cada três meses, ja é algo a mais que posto aqui sobre o assunto.

Tudo começou na última quinta-feira aqui em Manaus mesmo, quando tomamos um chá de cadeira bonito no aeroporto. Chegamos lá às 2h30 e só saímos às 13h30 por causa da neblina que parou tudo até de manhã cedo. Além disso, a Gol muito competentemente ficou adiando e adiando nosso voo até a tarde e nessa brincadeira perdemos o dia em São Paulo. Mas deixa estar, o ponto alto da quinta seria o show do Foster The People às 22h no Cine Joia, no bairro da Liberdade. 


E foi o ponto alto de fato. Mesmo entrando exatamente na hora do show, não ficamos longe do palco porque o lugar era pequeno e era em formato de teatro. Desde Houdini, a primeira que a banda californiana tocou, não dava pra ficar parado nem nas músicas lentas. A percussão é essencial na apresentação dos caras, tanto que a bateria não fica no fundo do palco como de costume, mas bem na frente, assim é impossível não se empolgar junto com os integrantes e pirar na batida. E falando em pirar, tenho que falar que o vocalista, o Mark Foster, é mestre. O cara tem umas dancinhas muito dorks e interage o tempo todo com o público. A galera também não ficou pra trás, cantou a maioria das músicas  junto com a banda e confirmou que o público brasileiro é um dos melhores públicos do mundo em termos de empolgação. Fiquei orgulhoso da gente também porque a música que mais bombou não foi Pumped Up Kicks, como era de se esperar, mas Call It What You Want e Don't Stop, durante as quais o Cine Joia quase vinha a baixo. Enfim, um show muito foda que só me fez ficar mais fã da banda.

Já na sexta, 6, fomos a uma exposição no Parque Ibirapuera sobre a história do rock. Foi um programa bem light e ainda tudo a ver com a razão toda da viagem. De noite ainda rolou uma Augusta, mas voltamos não muito tarde porque sábado e domingo eram dias de rock, bebê.

O clima de Lollapalooza no dia 7 já começou no metrô. Era bem fácil discernir a hipsterzada no meio do povo com seus wayfarers e roupas xadrez, falando dos shows que queriam assistir e tudo mais. Depois de uma boa meia hora de fila com essa galera do lado de fora do Jockey, finalmente chegamos na mega estrutura montada pro festival. Vários palcos espalhados e intercalados pelos caixas, bares, lanchonetes, banheiros e stands promocionais dos patrocinadores. Tudo, na minha opinião, bem planejado e sem confusões quanto às filas e à circulação de pessoas. Claro que lá pras 6h da tarde as filas do caixa estavam gigantescas e a galera tava reclamando, mas me safei dessa porque já tinha comprado várias fichas assim que cheguei. Mas passemos ao que interessa de verdade: Música!


O primeiro show a que assisti no sábado foi o do Cage The Elephant. Eu já conhecia algumas poucas músicas da banda, mas, infelizmente, a primeira dos caras que eu ouvi foi Shake Me Down e não tinha curtido muito por causa da voz irritante do vocalista, daí nunca tive saco pra baixar e ouvir o resto. O show, no entanto, foi uma boa supresa pros meus ouvidos descrentes. Embora fosse um show vespertino, a galera tava pilhada na apresentação no mínimo energética da banda, protagonizada pelo vocalista loucaço que gritava e corria pelo palco e que, duas vezes, se jogou no povo que não parava de gritar "jump! jump! jump!". Muito bom o show deles! Em seguida, depois de um intervalinho de uma hora, vi o show do Band Of Horses no mesmo palco. Esse, sim, tinha aquele climinha mais fim de tarde, com músicas calminhas e tal. Até conhecia umas três e  pude ver que a banda tava realmente feliz de 'tar aqui no Brasil tocando praquele povão todo. Definitivamente passarei a ouvir mais.

Finalmente, de noite, teve o show do headliner mais esperado do festival: Foo Fighters. Só que a coisa meio que desandou nesa hora. Acabei me perdendo da galera com quem eu tava e como eu não tava meeeesmo a fim de ser esmagado no show de uma banda da qual eu nem gosto, resolvi ver o show lá do fundão sentadinho e explicando pra menina do meu lado que em Manaus existe civilização. Agora é inegável que o Dave Grohl é o cara! Putz, ele agita muito a galera, canta e toca pra cacete, fala sobre as músicas e sem grandes pretensões. Ainda por cima faz o povo pular por duas horas e meia e ainda chama a Joan Jett pra cantar com eles no final. Muito muito bom o show deles. Não curto o som, mas tenho que admitir.

Vendo que era impossível assistir a todos os shows e ainda assim ficar perto da grade no sábado, decidimos no domingo acampar, assim que chegássemos, em frente ao palco em que os Arctic Monkeys tocariam. Nisso, teríamos que sacrificar Friendly Fires e MGMT, maaas, prioridades... Claro que mesmo chegando às 15h já tinha uma galera lá esperando o show que só seria às 21h30. Mas até que a espera da tarde foi tranquila, o sol não tava tão forte e as bandas ajudavam a esquecer o cansaço. A primeira que vi foi Thievery Corporation, uma salada muito louca de soul, reggae e rap, sem contar que tinha bem uns 5 vocalistas que se revezavam em cada estilo. Legalzinha e relax no começo, mas com meia hora já tava enjoado. Não é meu estilo. Uma hora depois entrou a Manchester Orchestra, a qual eu muito idiotamente achei que se tratava de fato de uma orquestra quando olhei a programação. Surpreendentemente gostei muito dessa banda americana. Eles tocam um rock lentinho com umas guitarras pesadas. Vale a pena procurar.

Já à noite vimos os shows que nos fizeram viajar 2000 km cruzando o país. Às 19h o Foster The People subiu ao palco e tirou aquele povo todo do chão. O público não foi tão bom quanto no show próprio deles, obviamente, mas muitos dos que tavam ali pra ver Arctic Monkeys pulavam e se empolgavam nas horas certas, fechando com chave de ouro essa turnê da banda, a qual eu sinceramente espero que não seja mais uma One Hit Wonder. Com uma plateia gigante como aquela, o vocalista se soltou ainda mais e até foi elogiado pelos chatos do G1. Terminada a apresentação - 15 minutos antes do previsto! - começou a maldita espera pelos Monkeys. Nisso, a galera que deixou o Jane's Addiction de lado já foi se empurrando pro palco principal. Mil anos depois, com as pernas e as costas doídas, a galera dá boas vindas insanas à banda inglesa mais esperada do dia. Já nas primeiras músicas eu temo pela minha vida. Berrando as letras das músicas, o Lollapalooza vai a loucura e a área ali próxima da grade vira um liquidificador, daí meus óculos começam a embaçar e eu do alto do meu 1,69m mal vejo o palco, ou seja, hora de vir um pouquinho pra trás. E é agora que eu cyber-apanho dos fãs de Arctic Monkeys. Cara, não curto esse setlist novo deles. Também não sei o que aconteceu comigo e com a banda. Era muito fã no primeiro álbum, curti o segundo, não suportei o terceiro e me viciei demais no quarto. Agora no show parece que eles escolheram as músicas mais chatas, sei lá, e tocaram poucas do novo álbum. Sério, não curti tanto quanto achei que curtiria. Achei também o cúmulo terminarem o show com 505, seriously, fim de noite total, que nem o Muse terminando com Take A Bow. Se bem que aqui também não posso deixar de comentar o talento absoluto do Alex Turner. O cara toca demais, canta demais e ainda fez um esforcinho pra agradar a nós brasileiros carentes que curtimos até aquele "obrigado" cheio de sotaque. Ótima performance do cara. Merece todos os elogios.

E foi isso, gente. Essa foi minha primeira aventura em um festival de grande porte. Foi uma ótima primeira experiência. Conheci bandas novas, conheci pessoas diferentes, expliquei mil vezes que Manaus é uma cidade normal, mas faz parte. Talvez da próxima vez não me concentre em um só palco como no segundo dia, mas, dependendo da banda, super vale a pena ficar lá na frente com o resto dos fãs e cansar de pular. Já há rumores de The Killers no fim do ano no Terra. Quero nem pensar pra não sofrer por antecipação. Ainda mais que eles possivelmente estarão com álbum novo. Mas isso é assunto futuro e esse post já tá grande demais. A impressão que fica do Lollapalooza é, afinal, a ótima organização, a mistura de ritmos e pessoas e todos ali unidos pacificamente pelo amor à música, embora o preço cobrado por toda essa estrutura ainda exclua muitos de algo tão universal quando a arte.

domingo, 1 de abril de 2012

Fiel e Um Pouco Mais

Do Tratado de Traição: em penitência por sua insurreição, cada distrito oferecerá um cidadão de cada sexo de 12 a 18 anos de idade em uma "Colheita" pública. Esses tributos serão entregues à custódia da Capital e então transferidos à uma arena pública, onde lutarão até a morte até que reste apenas um vencedor. Esse torneio, doravante e para todo o sempre, ficará conhecido como Jogos Vorazes.
Como outras promessas já feitas neste blog, quebrei mais uma, pois não postei esta bendita resenha de Jogos Vorazes (The Hunger Games) no último fim de semana. Por outro lado, já vi o filme quatro vezes, assim, pude analisá-lo sob diferentes estados de espírito. Na primeira vez, a euforia em pessoa; na segunda, prestando atenção aos detalhes; na terceira, tentando vê-lo como alguém que não leu os livros; e na quarta, estando 30 horas acordado, achando o filme mais triste do ano. Logo, este texto é fruto de bastante ponderação e análise.

Começando pela adaptação livro/filme, posso dizer que não houve problemas. Sempre que saía de uma sessão de estreia de Harry Potter, por exemplo, era a mesma coisa... "E a cena das garrafas e do jogo de lógica?? E a cena do quadribol??". E isso não era o pior. Ruim mesmo era quando inventavam outras cenas pra cobrir os buracos. Hoje critico menos o modo como Harry Potter foi feito porque entendo um pouco melhor o processo complicado de adaptar livros. No entanto, talvez pela própria estrutura da obra da Suzanne Collins, isso não acontece em Jogos Vorazes. Embora muitas cenas na Arena sejam mais aceleradas, tá tudo ali, bonitinho. Além disso, o diretor e os roteiristas deram um passo à frente e nos libertaram da visão em primeira pessoa do livro. Se neste a protagonista especulava e calculava o que se passava em outros lugares, o filme de fato nos mostra esses outros lugares. Eles podiam ter escolhido o caminho mais fácil e simplesmente terem metido uma narradora em off, mas aí não teria nem a metade do brilho que teve. Dando aos espectadores acesso às cenas não vistas no livro só fortaleceu, portanto, o argumento da obra e ainda deixou ótimos ganchos pra sequência Em Chamas.

Quanto ao elenco, não sei nem o que dizer. Ok, eu tinha minhas reservas quanto a escolhas como Woody Harrelson e Lenny fucking Kravitz, mas mesmo estes conseguiram fazer um bom trabalho, embora suas atuações se diferenciem um pouco do que eu tinha imaginado no livro. Agora o que é exatamente como no livro é o trabalho de atores como o Stanley Tucci e a Elizabeth Banks. Sério, acho que ninguém mais teria feito um Caesar Flickerman, popular apresentador da Capital, tão bem quanto ele, com o jeito afetado e com o carisma que ajuda até os mais nervosos dos tributos na entrevista. No filme ele ainda é promovido a comentarista dos jogos, transmitindo ao público detalhes somente pensados pela protagonista no livro. Quanto à Effie da Elizabeth Banks só digo uma coisa: na mosca, cada fala é dita com muita propriedade, é hilária sem querer ser. Até o Liam Hemsworth, cara, com quem eu tanto implicava, me fez gostar do Gale, melhor amigo da Katniss. Acreditei cego na relação forte desses dois. Já Josh Hutcherson é Peeta Mellark. E Peeta Mellark é Josh Hutcherson. E o que dizer sobre Jennifer Lawrence? Dizer que ela carrega o filme nas costas seria uma injustiça com um elenco tão bom, mas, não sei, toda a fibra, a força, a fraqueza, a resiliência de uma personagem tão complexa estão perfeitamente personificadas na atuação dessa criatura. Eu olhava pra cara dela e parágrafos e parágrafos do livro se repetiam na minha mente. Provou cabalmente porque tem uma indicação ao Oscar.

Agora passando ao quesito "efeitos visuais e sonoros", já adianto que não estava preparado pro que ali vi. Nunca tinha visto um filme do Gary Ross, mas esse filho da mãe me surpreendeu num filme cujo livro li três vezes. A câmera chacoalhando loucamente em certas horas dava um ar de filme independente e a ausência de som na cena da Colheita só piora a tensão de um momento já naturalmente tenso. Já a cena mais violenta do livro, o banho de sangue no início dos jogos, não podia ter o mesmo impacto porque, bem, a classificação indicativa é de 12 anos, mas o quê que o Senhor Ross fez? Simplesmente cortou o áudio original e colocou um belo zumbido nos nossos ouvidos, enquanto isso, adolescentes se matam diante dos nossos olhos sem dó e piedade, ou seja, jogada de mestre que satisfaz os desavisados que só querem ver sangue e também não choca os guardiães da pureza das crianças. Por essas e outras é que mais um indicado ao Oscar prova sua competência no processo de adaptação de uma trilogia já bastante popular. Torna-se muito claro que o diretor compreendeu perfeitamente que a experiência da leitura é uma, e que a experiência audiovisual do cinema é outra. Ao mesmo tempo, ambas se unem harmonicamente e dividem a mesma essência originalmente pensada pelo gênio da Suzanne Collins.

Gente, eu já sabia desde o início que não conseguiria fazer uma resenha 100% imparcial, mas juro que tentei procurar algo significativamente ruim nesse filme, no entanto, não consegui, juro! O quê que eu ia escrever aqui? Que o gato da Prim no livro é amarelo e no filme é preto? Que a cornucópia no livro é dourada e no filme é prateada? Jogos Vorazes, embora tenha origem num livro, é um filme que tem voz e estilo próprios. Utiliza-se justamente dos elementos que diferenciam a literatura do cinema a seu favor. Se no livro temos a impossibilidade de ver ou ouvir - sem ser na nossa imaginação obviamente -, no filme temos uma experiência muito rica que trabalha muito bem esses sentidos, sem o temor de confundir ou alienar os espectadores. Da mesma forma, todos os conflitos são debatidos de forma direta, não são tão mastigados pra agradar a audiência. Os bastidores de um governo totalitário disfarçado são revelados com ótimos diálogos. A troca de papéis dos gêneros - a mulher forte e homem a ser protegido - também são tratados com naturalidade e sem desdém. Resumindo, uma adaptação que explora super bem sua obra original, mas que não tem medo de se provar como filme separado da literatura. Nessa experiência, saem ganhando os fãs e aqueles espectadores sem compromisso.

Nota: 9,5.
"Hope. It is the only thing stronger than fear"
 *IMDB

Top 5 Janeiro-Março

E aí, povo? Como foi esse primeiro quarto de 2012 pra vocês? Pra mim foi metade party hard e metade "trabalha, Eduardo, trabalha!". Tô cansado. Mas continuando a série musical de posts trimestrais, passemos às músicas que mais ouvi de janeiro a março.

5. Safe And Sound - Taylor Swift feat. The Civil Wars

Calma! Antes de fechar esta aba, deixem-me explicar! Sim, ouvi muito Taylor Swift esses meses, mas só essa mesmo, eu juro! Safe And Sound é o tema oficial de Jogos Vorazes, que estreou vorazmente no último dia 23 e me fez roer as unhas por um ano de espera. E é óbvio que quando lançassem a trilha oficial eu a ouviria, mesmo sendo Taylor Swift D: Ela engloba bem o espírito do livro e, pelo menos, não é uma daquelas de namoradinho que ela geralmente lança.

4. Crediário - Mezatrio

Finalmente uma desse meu Amazonas lindo! A Mezatrio foi uma das primeiras bandas com que tive contato quando comecei a explorar a cena mais alternativa de Manaus. De primeira, não suportava as músicas e quase dormia no show dos caras. Claro, tinha 15 anos e só queria ouvir Arctic Monkeys e Strokes, mas isso foi há seis anos já. Aos poucos comecei a ouvi-los com mais cuidado e a me passar demais nas letras e nos shows muito bem executados. Hoje eles já estão prestes a lançar o segundo álbum, logo, definitivamente estarei lá nas próximas apresentações.

3. Tokyo (Vampires & Wolves) - The Wombats

Mais uma pra série de bandas pras que eu só fui dar importância depois de meses do lançamento do álbum, apesar de todas as recomendações. Esse segundo álbum do Wombats foi lançado em abril do ano passado e eu só cheguei a escutá-lo em janeiro. Nem sabia que estava com saudades de uma bandinha britânica mais dançantezinha - Oh, Franz, what ever happened to you, guys? O fato é que me viciei demais nessa daí e até em karaokê eu já cantei! 

2. Beach Sluts - Howler

Como já anunciado no último post desta série, a Howler foi realmente uma das bandas mais faladas esses tempos. Enfim, lançaram seu álbum de estreia e aí está mais um single que não sai da minha cabeça. Até bato palminha dirigindo e cantando junto com a música. Surf rock simplesinho e relax.

1. Video Games - Lana Del Rey

Hipsters, corram pras montanhas! A mais nova modinha, geneticamente programada pra agradar os "pseudo-alternativos", está no primeiro lugar, que horror! Anyways, digam que ela é produto de gravadora, digam que ela encomenda suas músicas, digam que ela é uma riquinha pagando de artista. Eu só digo uma coisa: quando eu aperto o play, não é o dinheiro da gravadora que eu escuto, mas essa mulher com voz de enterro cantando coisas ora tristes, ora sexys, ou ambas ao mesmo tempo.

É isso, povo. Legal é comparar essa lista com o que eu estava ouvindo há um ano e lembrar do estado de espírito da época, outra vibe. Mas que venha abril! E meu aniversário no fim do mês!