Façamos um pequeno exercício mental. Feche os olhos - não exatamente nesse momento, ainda não tô fazendo podcast. Tente se lembrar da coisa mais embaraçosa da sua vida. Não, não. Embaraçosa, não. Cruel. Humilhante. Vergonhosa. Pode ser algo que você presenciou ou algo que você mesmo fez. Algo que ainda hoje te assombra e de alguma forma te entristece, enoja ou te faz um ser humano pior. Pensou? Pois bem. E se eu te dissesse que há um jeito de apagar essas memórias? De apagar essas assombrações que com o mais corriqueiro dos acontecimentos pode do nada ressurgir do teu inconsciente. Foi essa a tentação que eu revisitei ainda há pouco quando decidi rever Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças.
A história gira em torno de Joel Barish (Jim Carrey), que decide, assim como sua ex-namorada, contratar os serviços da empresa Lacuna Inc, a qual apaga memórias específicas do cérebro humano, dependendo daquilo que o cliente quiser esquecer - no caso de Joel, seu relacionamento fracassado com Clementine (Kate Winslet). A maior parte do filme se passa na mente do protagonista, onde ele revive todas as memórias referentes à ex, fazendo-o eventualmente refletir se esquecer é realmente necessário.
Engraçado como estudar teoria da literatura me faz olhar pros filmes de maneira diferente agora. É claro que a linguagem não é a mesma, mas não deixam de haver ferramentas em comum, como o tratamento da perspectiva, do tempo cronológico, os quais, por exemplo, são elementos trabalhados com destreza no filme. Ao acompanhar o caminho sinuoso de Joel através de suas memórias, embarcamos numa trajetória parcial na qual seremos expostos desde os mais diversos aspectos de seu namoro até os momentos de maior humilhação de sua vida, uma verdadeira viagem aos sentimentos humanos mais íntimos. Paralelamente, justapõem-se as sequências em que há o questionamento de até aonde vão os benefícios desse esquecimento seletivo. Quem somos nós depois de ter certas partes da memória apagadas?
O filme brinca muito com esses altos e baixos da vida, questionando sempre o limite entre nossa personalidade, nossa essência e nossas experiências representadas pela memória. Quem pode me garantir que depois de ter a memória apagada eu não farei tudo de novo? Quem me garante que me fazer esquecer algo do meu passado vai me dar uma vida nova em que eu possa me reerguer? É claro que no meio desse turbilhão existe preponderantemente uma história de amor, apresentada de forma íntima e original. Apesar de serem opostos, é possível entender a atração que um exerce no outro, e aqui eu tiro meu chapéu pra Kate Winslet e pro Jim Carrey. Em nenhum momento tive vontade de rir por lembrar de algum outro personagem idiota dele. Sério, outra pessoa.
Enfim, o filme é de 2004, então se você ainda não viu, baixe/compre/veja logo. Trata-se não só de uma jornada na mente do protagonista, mas também de um mergulho nas suas próprias experiências e no impacto que elas têm na sua vida. Pra mim, o que realmente ficou foi a importância de passar por esses perrengues, por todas essas chatices, ou mesmo de ter feito aquelas merdas, ofender alguém que eu amo (ou não), invejar, maldizer. Afinal, cada pedacinho desse, cada memoriazinha dessa me ajudou a ser quem eu sou hoje e continuará ajudando pro resto da vida. Esquecer acaba sendo só um retrocesso. Tropeçar absolutamente faz parte do caminho. E como já dizia Nietzsche: aquilo que não me mata só me fortalece.
Nota: 10
"- What if you take me somewhere else, somewhere where I don't belong, and we hide there till morning?
- Oh, man. I can't remember anything without you."
PS: escrevi esse post sob os sintomas da privação de sono, portanto noã me responsibalizo por evnetuais incronguências.


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