quarta-feira, 30 de março de 2011

Porcos Ditadores Porcos

Então, gente, essa semana minha dica de livro é uma bela historinha sobre os animaizinhos de uma fazenda inglesa. Cansados da vida miserável que levavam às custas do dono da fazenda, eles resolvem se rebelar e por um basta na rotina laboriosa e na recompensa insuficiente aos quais são submetidos. Liderados pelos porquinhos Bola-de-Neve e Napoleão, os bichos conseguem fazer sua revolução e se tornam os senhores da fazenda, tomando as rédeas de seus próprios destinos.

Legal, né? Não especialmente. Mas e se eu dissesse que esse livro foi publicado na Inglaterra em 1945 e que não faria muita diferença se eu substituísse os nomes dos porcos Bola-de-Neve e Napoleão por Lênin e Stalin? Mais interessante, não? Pois é, aí é que tá toda a genialidade de A Revolução dos Bichos  (Animal Farm) do George Orweeeeeeeeeell.

Ignorando abertamente o suposto decoro das relações entre a Inglaterra, sua terra natal, e a então União Soviética, aliadas na Segunda Guerra Mundial, o autor publicou esse romance alegórico como forma de expressão de sua crítica a Stálin, o qual, segundo o autor, distorcera os ideais originais marxistas e transformara o comunismo mais numa reforma do próprio capitalismo.

O romance, apesar de ser uma metáfora mais obviamente da Revolução Russa, retrata as picaretagens de qualquer governo de hoje em dia, desde a relativa flexibilidade das leis, que parecem oferecer interpretações ambíguas quando o momento é oportuno, até às contradições nos discursos políticos, originárias em interesses próprios e econômicos. A ignorância e a maleabilidade do povo também não passam impunes, embora sejam amortecidas pela força da manipulação, censura e coação dos poderosos.

A Revolução dos Bichos já foi eleita várias vezes e por diversas fontes um dos melhores romances da língua inglesa. Em sua aparente simplicidade em meio a um cenário bucólico, a trama tece uma crítica aguda ao show de marionetes a que somos submetidos por nossos políticos, que manipulam uma sociedade que mal tem ciência do que se passa no governo, pois está preocupada demais com sua própria sobrevivência e não percebe como é a vítima na situação, quando ela mesma tem a força pra virar o jogo. Stalin há muito não governa, mas A Revolução dos Bichos obviamente ainda tem muito o que dizer nos dias de hoje.
"As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já era impossível distinguir quem era homem, quem era porco"

quinta-feira, 24 de março de 2011

Fun Fun, Fun Fun!

Não se fala em outra coisa. Há mais de 10 dias a novíssima web celebrity Rebecca Black figura entre os Trending Topics do Twitter e não parece querer sair. A adolescente de 13 anos, residente na Califórnia, deixou o anonimato no início do mês quando seu videoclipe Friday se tornou viral no YouTube e foi acessado por milhões de internautas, que logo se deixaram levar pela canção envolvente e tão relevante para qualquer jovem imerso na sociedade atual.

Friday trata de vários temas delicados, os quais não devem ser zombados ou levados na brincadeira, como milhares de usuários do Twitter irresponsavelmente tem feito. Embalada por um ritmo divertido e inovador, a letra denuncia poeticamente, entre outros, o descaso governamental perante o sistema educacional estado-unidense, que acaba desencadeando graves distúrbios comportamentais em estudantes da classe média alta californiana.

Diante da complexidade dos temas aqui explorados, faz-se míster uma melhor esquematização do escopo da obra para fins pedagógicos:

1.  Abandono Familiar

No quadro acima depreende-se a falta de interesse por parte da família na vida de Rebecca, uma jovem especial que para suprir o desinteresse parental se concentra em atividades frívolas como o alisamento de seus cabelos após levantar-se às 7 da manhã. Tal assertiva pode ser corroborada pelos seguintes versos: Gotta be fresh, gotta go downstairs  e Tickin' on and on, everybody's rushin'.

2. Comportamento Juvenil Errático

A imagem anterior evidencia com clareza a rebeldia que caracteriza a juventude do mundo ocidental atual. Os pais de Rebecca, embora eventualmente relapsos, confiam a segurança de sua filha ao transporte público oferecido pelo Estado, porém sequer imaginam que seu rebento esnoba o ônibus e cede à pressão social ao embarcar num veículo conduzido por um menor, o qual parece considerar o uso do cinto de segurança obsoleto. Nesse momento a jovem é obrigada a lidar com um importante impasse, que poderá afetar todo o seu futuro e estabelecer seu status quo perante seus pares: ela sentará no banco da frente ou no de trás? Após a difícil decisão Black brada o comovente refrão e afirma que everybody's looking forward to the weekend, período durante o qual os jovens reconhecidamente fazem uso de substâncias alucinógenas e iniciam atividades sexuais devido à distância segura do controlado ambiente escolar e familiar (Partyin', partyin', yeah!).

3. Inclusão Social
A obra de Black demonstra neste trecho uma pujante preocupação de cunho social ao incluir deficientes no seu círculo de amizades. A mensagem aqui transmitida é que todos podem gozar de um fim de semana de diversão, independente de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, etc.

4. Negação da Realidade

No trecho acima ilustrado tem-se talvez a seção mais alegórica do videoclipe, na qual Black enuncia os dias sucessivos da semana a fim de elucidar a rotina maçante à qual os jovens são submetidos. A clausura da obviedade do dia-a-dia tem como consequência o nascimento de um sentimento de fuga, de negação dos valores impostos pela sociedade vigente. Black então conclui seu raciocínio sagaz flertando com a geração beat de Kerouac ao cantar emocionada I don't want this weekend to end!

Este foi apenas o início da obra de Black, que embora em tenra idade, já tem discernimento para tratar de assuntos que dizem respeito à sociedade como um todo. Seus fãs já aguardam ansiosamente seu álbum de estreia, que certamente virará o atual cenário da música pop mundial de cabeça para baixo.


Agora Vai! (Tomara)

Então, 2011, ano novo, emprego novo, curso novo, universidade nova (espero), novos gostos, enfim, vamos ver se esse blog eu consigo manter.

Até a próxima!